Como património cultural é
de realçar a fala diária da
Língua Mirandesa. Nestes últimos
anos tem havido, por parte de alguns amantes
desta língua, um grande empenho em
divulgá-Ia e ensiná-Ia ás
gerações mais novas,
As festas e romarias que, ainda hoje, se
realizam na freguesia constituem uma parte
das tradições que se vão
mantendo vivas. Assim, destacam-se as festas
realizadas em honra de Santa Cruz, nos dias
2 a 4 de Maio, de Nossa Senhora do Rosário,
no último domingo de Agosto e de
São Martinho, no dia 11 de Novembro.
A festa de São Martinho é
celebrada no próprio dia de São
Martinho com a distribuição
gratuita de comida e bebida a todos os visitantes
e respectiva população residente.
A festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário
é também conhecida como a
Festa dos Pauliteiros, durante esses dias
é possível ver a actuação
dos Pauliteiros de São Martinho de
Angueira, uma vez que percorrem, entre as
cinco e as quinze horas, todas as casas
da freguesia para recolher donativos e é
habitual á porta de cada morador
dançar um "Ihaço",
mas sempre diferente.
Diz o povo que estes dançadores
surgiram em meados do século XV,
na época da peste negra europeia,
Peste que matou cerca de vinte e cinco milhões
de pessoas em toda a Europa e entre eles,
muitos jovens da freguesia. Reza a História
que" sobre a aldeia de São Martinho
se abateu uma doença que dizimava
todas as mulheres, em especial as mais jovens".
"Perante tal cenário mórbido,
os jovens corriam o risco de não
casarem, então estes apelaram á
Virgem Maria, suplicando-lhe que afastasse
tal doença da povoação
e em troca do favor concedido, dançariam
para ela todos os anos, A doença
acabou por desaparecer e os jovens solteiros
continuam, ainda hoje, a cumprir a promessa".
Inicialmente, a dança como forma
de oração era posta em prática
apenas á porta de jovens, vítimas
da doença, Posteriormente, passou
a ser executada em todas as portas como
forma de lembrar os que faleceram e como
forma de agradecimento por aqueles que sobreviveram.
Com o passar dos anos, estas danças
despertaram cada vez mais a curiosidade
e interesse geral dos estudiosos e etnógrafos,
de modo que, durante o séc,XX, procuraram
divulgá-Ias por todo o mundo. Esta
dança é marcada por um traje
muito específico, constituído
por um chapéu enfeitado, um colete
sobre os ombros, uma saia com um lenço
em tira, umas meias de lã listadas
e botas grossas de cordovão, Nas
mãos trazem um par de paus e dois
pares de castanholas.
As danças e cantares são comandados
pelo toque da gaita de fole, da caixa de
guerra e do bombo.
Hai bien moços - i
que moços
An San Martino d'Angueiral
Quando fázen ua cousa,
Nunca la déixan a meio,
Siempre la fázen anteira,
Hai bien moços - i que moços
An San Martino d'Angueiral
Agarrados ai pendon,
Nun son para brincadeira I
Hai bien moços - i que moços
An San Martino d'Angueiral
Hai-Ios de meia polaina,
I hai-Ios de polaina anteira,
Hai bien moços, hai bien moços,
Moços de fuorça e eideia,
Hai-Ios d_ua canhiça
I hai-Ios de canhiça i meia,
Manuel Preto, in "Bersos Mirandeses",
Edições Salesianas, 1993
De entre os "Ihaços" dançados
pelos Pauliteiros, são de destacar:
Santo Antoninho
Santo Antoninho, la do bom fim,
Dai-me o menino a min
Para reclame, se for gordinho
Quero que chame Santo Antoninho.
Ho meu rico António livrai-me deste
demónio,
Que me esta a tentar, amparai o matrimonio,
Que eu ando morto por casar.
Vamos raparigas bonitas e feias,
Ao santo Antoninho a mostrar as meias,
Se ela não lá estiver voltamos
para traz,
A mostrar as ligas aquele bom rapaz
Claudio Amoedo
Saramontano
Allogar dei saramontano que andava detras
de la sierra Carbajal
E santolario raiando com mariguela,
Mas abajo tiene una barca que le Ihamam
bandulera e bandulera
Laurindinha
Ho Laurindinha sai a janela, Ho Laurindinha
sai a janela.
Vem ver as tropas ai ai ai que se vao p'rá
guerra.
Vem ver as tropas ai ai ai que se vao p'rá
a guerra.
Que se vao p'rá guerra deixai-os
ir,
Que se vao p'rá guerra deixa-os ir.
São rapazes novos ai ai ai voltarão
a vir,
São rapazes novos ai ai ai voltarão
a vir.
Voltarão a vir voltarão ou
não
Voltarão a vir voltarão ou
não.
São rapazes novos ai ai ai da minha
feição,
São rapazes novos ai ai ai do meu
coração.
AI Mirandum
Mirandum se fue a la guerra
io no se quando bendra.
lo no se quando bendra, io no se quando
bendra,
Se bendra por la Páscoa se por la
enternidad
Irundun, irundun, irundela,
Irundun Vá no bendrá.
Os Pauliteiros continuam a ser dirigidos
pela Comissão Directiva, da qual
faz parte: Fortunato Santos Preto, Arcelino
Preto e Ilídio Fernandes.
As tradições relacionadas
com os jogos tipicos vão sendo mantidas,
graças ás várias associações
existentes na freguesia, que promovem o
convívio e o bem estar dos habitantes.
Assim, os jogos mais característicos
de São Martinho de Angueira, que
se jogam, essencialmente aos Domingos, são:
o Fito, o Ferro, a Sueca e a Malha.
Malha
A Malha deve jogar-se á distância
oficial de vinte e cinco metros, as equipas
são sorteadas quinze minutos antes
do início do jogo e começa
o jogo a equipa que tiver sido sorteada
em primeiro lugar. As equipas mudam de campo
sempre que se iniciar uma nova partida,
sendo as segunda e terceira partidas começadas
pela equipa que perdeu a anterior. Cada
jogo terminará logo que estiverem
concluídas três partidas.
Relativamente á pontuação,
distribui-se da seguinte forma: após
cada derrube de pinoco são contados
cinco pontos; após quatro lançamentos,
contam-se dois pontos para a equipa que
tiver a malha mais próxima do pinoco;
de cada vez que se vencer uma partida, obtém-se
trinta pontos.
Fito
o fito joga-se com duas pedras e dois marcos
(duas pedras colocadas em pé e distantes
uns dez a vinte metros). Dois ou quatro
jogadores (neste caso formando equipa) iniciam
o jogo tentando derrubar o fito: o marco
de pedra, ou pelo menos conseguir que a
sua pedra fique o mais próximo dele.
O derrube do marco vale quatro pontos, conseguir
põr a malha mais próximo que
o adversário vale dois pontos.
Ganha quem conseguir chegar primeiro a quarenta
pontos.
Ferro
O jogo do ferro consiste em atirar parte
de um ferro de bacelar, o mais longe possível
que pode ser por
cima ou por baixo.
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